No número 25 há um gato, bigodes preso no seu espaço,
sem chave para a sóbria porta, porta velha de castanho,
cor dos dias do mês que corre.
Na rua esguia há um banco, banco de todo o tamanho vazio,
virado para dentro da loja antiga, contando os anos para trás,
fazendo dos olhos seu único fazer.
Atrás do jardim desenha-se uma janela, de quatro em quatro rectângulos espelhados,
de traço claro mas escondido traçado, onde há conversas que não existem,
onde peixes voam em direcção cega.
No antigo átrio deslizam murmúrios, veste-se a pele da tranquilidade educada,
dá-se passos num diálogo fantasma, esgueira-se por entre a imagem d'Ele,
à volta da fonte de esquecimento envenenado.
No fundo do copo sentado ao dia, enrolam-se palavras que saem repetidas,
de sim-sim e não-não casual, minutos que chamam nomes que se apagam,
de memórias tão memórias que se questiona o seu ser,
em cíclica novidade daquilo que não sai dali.
No ponteiro do relógio vejo que é tarde,
mas a ampulheta que comprei, diz que o hoje
ainda se poderá deitar com amanhã.
Enquanto se observam grãos a subir as escadas.
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