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Wednesday, September 24, 2008

Em branco

Photobucket

Sentado sob a copa, olho para cima.
Vejo um ramo que se mostra.
Para que me serves tu, ramo?

De olhos neste rio, andado pela beira,
descubro uma linha de um falso fim.
Para que me serves tu, horizonte?

Voltado de costas para o resto, em ensimesmado balcao.
Perco tempo no fundo de um vaso.
Afinal qual é a tua solucao, líquido?

Esquecido no escuro, debato-me com os projectos que acabam por nao ser.
Escondido na confusao de cadeiras vazias pergunto-me
Para que me serves tu, cinema?

Bailando enquanto tudo mais se amorfa num sofá.
Pintando os dia e determinando disposicoes.
Por que te abro sempre a porta só a ti, música?

Vendo-me rodeado de faces, expressoes sem profundidade, natureza morta.
Ouvindo conversas a preto e branco, enquanto se finge pertencer a este espaco entre os ombros.
Para que preciso de ti, eu?

Porque estou sem bolsos para ódio e nao sei mais onde o jogar.



"I stand on the cliffs with my son next to me
This island our prison, our home
And everyday we look out at the sea
This place is all he's ever known

"But I've got a plan," He sung
Wax and some string, some feathers I stole from a bird
We leap from the cliff and we hear the wind sing a song thats too perfect for words

But son, please keep a steady wing
And know your the only one that means anything to me
Steer clear of the sun, or you'll find yourself in the sea

Now safely away, I let out a cry
"We'll make the mainland by noon"
But Icarus climbs higher still in the sky
Maybe I've spoken too soon

But son, please keep a steady wing
And know your the only one that means anything to me
Steer clear of the sun, or you'll find yourself in the sea
Wont you look at your wings
They're coming undone
They're splitting at the seams
Steer clear of the sun, for once wont you listen to me?

Oh God!
Why is this happening to me?
All I wanted was new life for my son to grow up free
And now you took the only thing that meant anything to me
I'll never fly again, I'll hang up my wings
Oh God!
Why is this happening to me?
All I wanted was new life for my son to grow up free
And now you took the only thing that meant anything to me
I'll never fly again, I'll hang up my wings
Oh God!"

Wednesday, September 3, 2008

De veias bem abertas


"O cavaleiro O'Keefe tinha, como eu, uma fraqueza. Era enormemente sensível a todos os tipos e géneros de mulher. Além de sentimental, era um romântico, um homem de paixões violentas, um pouco cego de um olho e quase totalmente cego do outro. Ora, um macho que anda dessa forma pelo mundo é quase tão desamparado como um leão sem dentes, e por isso o cavaleiro sofreu muito durante vinte anos devido a uma série de mulheres que o odiavam, se serviam dele, o aborreciam, o ofendiam, lhe faziam mal, gastavam o seu dinheiro, faziam dele um tolo - em suma, como se diz, o amavam.

(...)

Foi mais ou menos nesse momento que a primeira contradição do caso se afirmou. Havia certa impiedade, certo indecoro, no facto de Glória estar ausente do hotel. Tinha a impressão de que, saindo, ela o colocava numa posição desvantajosa. Ao voltar saberia que ele telefonara e sorriria. Mas discretamente. Deveria ter deixado passar algumas horas para evidenciar a despreocupação com que encarava o incidente. Que tolice cometera! Ela suporia que se considerava particularmente favorecido. Ia pensar que reagia com a intimidade mais inepta a um episódio trivial.

(...)

Anthony sentou-se a seu lado e apertou-lhe as mãos. Estavam inertes e não responderam.
- Ora Glória!
Fez um movimento, como se fosse envolvê-la com o braço, mas ela afastou-se.
-Não quero - repetiu.

(...)


- Se está cansada de me beijar é melhor então ir-me embora.
Viu os lábios dela contraírem-se ligeiramente, e o que restava da sua dignidade abandonou-o.
- Creio que você já disse isso várias vezes.
(...) Com um incerto «adeus» de que se arrependeu mal o pronunciara, saiu rapidamente, mas sem dignidade, da sala.
Por um momento Glória ficou imóvel. Tinha ainda os lábios contraídos, e o olhar era directo, orgulhoso, longínquo. Passado um momento, os seus olhos cobriram-se de uma leve película de névoa e pronunciou a meia-voz três palavras dirigidas ao seu fogo agonizante:
- Adeus, seu idiota.

(...)

Num instante ela mostrara gostar tremendamente dele - ah!, quase o amara. No instante seguinte tornara-se indiferente para si, um insolente que recebera a humilhação merecida."


in Belos e Malditos, de F. Scott Fitzgerald


Eu sabia que isto ia acontecer.
É o gosto pela queda.

Wednesday, August 20, 2008

Um livro, como quem escolhe uma vida




Foi numa rua inclinada que te encontrei, no baloico de uma antiga infancia.

Lisboa, a descoberto. Ouviste a minha vida enquanto caminhavamos em direccao ao fim da tarde.

Tenho a sensacao que me prendes ainda antes de te conhecer.

Pressinto que me vais contar algo de entranhável. Presságio feito, torna-se assustador.

Estavas lá no dia em que tive de deixar para trás retalhos de desejos, cosidos por maos trémulas.

Nao te trocava.



Contei-te tudo.
Fiz um sorriso.

Tudo é mesmo muita coisa.

Monday, June 23, 2008

Literatura







Agora que me encontro isolado...

































































Está quase a fazer um ano desde que me encontro em retiro (nao completamente auto-induzido mas circunstancial) das civilizacoes citadinas. Isto querendo dizer que moro numa aldeia, em frente a um enorme calhau com olhos, onde nao há sequer uma lojinha nem um café (eu nao posso chamar um quiosque, a 1 metro da estrada nacional, de café). A sensacao de isolamento cresce (mesmo que esteja a 40min a pé da capital) no inverno, quando tudo se cobre de neve, num pálido branco, em silencio sepulcral. Foi assim que recomecei a ler. De facto, nunca deixei de o fazer, apesar do hábito frequente de leitura ter sido um pouco arruinado pelas torres de livros da faculdade que gritavam sempre que eu chegava a casa. Estes foram os últimos cinco que li* (ainda tenho a coleccao completa do Ondjaki `a espera...). Como sempre a leitura comeca a passo e acaba a passo, entre o incial nao saber ao que viemos e o descendente desejo em que nao acabe tao cedo.

A quem quiser ler umas palavras.


Mário de Carvalho - A sala Magenta

Joao Lopes Marques - O Homem que queria ser Lindbergh

Goncalo M. Tavares - Jerusálem

Boris Vian - A Espuma dos Dias

Oscar Wilde - The Picture of Dorian Gray



* O Retrato de Dorian Gray é o corrente.